CUSTO DA FALTA DE ENGENHARIA
A enorme tragédia que se abateu sobre Minas Gerais com a ruptura da barragem de Brumadinho e que chocou o País e a Engenharia, exige, ao lado das providências emergenciais, uma reflexão profunda e imediata sobre suas possíveis causas e consequências, e quais as lições a serem aprendidas.
Não basta apresentarmos laudos e opiniões sobre o ocorrido, sobre os sistemas de fiscalização e licenciamento técnico ou ambiental, sobre as ações empresarias e governamentais dos entes envolvidos nas atividades de exploração de recursos minerais e energéticos do Brasil, sobre a impunidade e demora na punição dos casos anteriores, ou até mesmo realizar algumas prisões mais afoitas.
A grande dimensão da tragédia, principalmente o lado humano, exige além da busca dos responsáveis, que se entenda em profundidade qual o verdadeiro papel da Engenharia brasileira na atualidade. Este episódio é um drama humano, político e empresarial, do qual a Engenharia é coadjuvante.
Estamos vivendo já há muitos anos um processo de depreciação e desmanche da Engenharia, que decorre do enorme papel do estado na economia brasileira, que é o grande contratante dos serviços de Engenharia e Construção. As contratações são decididas por critérios jurídico-administrativos, com enorme peso dos Tribunais de Contas e Ministério Público nas compras de serviços técnicos especializados. É inadmissível, por exemplo, a contratação de projetos técnicos por pregão, que dá valor ao preço, desconsiderando a melhor solução.
A abordagem excessivamente financeira, aliada aos excessos de controles formais e às pressões políticas, incentiva executivos e burocratas a focalizarem sua energia nos resultados imediatos, assumindo riscos sem preocupação com as consequências.
O resultado da aplicação extensiva desses critérios de seleção e decisão para contratação, em última instância danosos, conduzem à redução progressiva da utilização da Engenharia brasileira nos processos de escolha e contração de projetos, construção, gerenciamentos, fiscalização de obras e montagens, e gerenciamento de operação e manutenção. Cabe lembrar que o que interessa é o menor preço no fim da obra e não na sua contratação.
Quanto custa o apressamento de uma obra? Quanto custa um projeto de baixa qualidade? Quanto custa a falta de experiência de engenheiros e firmas contratadas para atuarem em obras cujos prazos e custos são sabidamente irreais? Quanto custa a falta de fiscalização adequada? Quanto custa um rio destruído? E uma vida perdida? A forma como o Brasil responde a essas questões define como os gestores tomam decisões. É hora de o Brasil mostrar que, aqui, não vale a pena fazer esse tipo de economia.
Assim, na urgência e enorme pressão que um negócio de mineração em escala mundial impõe a seus participantes, um acidente desta magnitude repercute muito além do noticiário interno e internacional. Muitas lições deverão ser registradas e apreendidas. Porém, uma delas deve estar em primeiro plano: o que houve não foi falha da Engenharia mas, sim, FALTA DE ENGENHARIA!
Por Eduardo Lafraia
Presidente do Instituto de Engenharia