São Paulo, 28/09/2016 – O Brasil convive com um índice médio de perdas na distribuição de 36,7%, segundo os dados mais recentes, de 2014, do Sistema de Informações sobre Saneamento (SNIS), do Ministério das Cidades. E, embora tenha havido uma queda de 6,8 pontos percentuais no índice nos últimos dez anos, as perdas são consideradas altas frente a padrões internacionais, de acordo com matéria publicada hoje pelo jornal Valor Econômico.
As perdas de água tratada na rede de distribuição causam ao país um prejuízo econômico de R$ 8 bilhões por ano, mas 60% desse total poderiam ser revertidos com investimentos em melhoria da infraestrutura e dos processos de gestão.
“Perdemos água tratada, clorada e fluoretada. Mais do que uma questão econômica, é um problema ambiental sobre o qual a sociedade não tem a exata dimensão”, afirmou Ernani Ciríaco de Miranda, diretor de Articulação Institucional da Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental do Ministério das Cidades, durante painel realizado no segundo dia da Conferência Ethos 360°.
Segundo ele, o Plano Nacional de Saneamento Básico (Plansab) do governo federal coloca como meta chegar a um índice médio de perdas de 31% em 2033, mas experiências em curso mostram que essa meta é conservadora – seria possível chegar a perdas médias de 20% no prazo de dez anos.
Para isso, serão necessários investimentos da ordem de R$ 76,8 bilhões nos próximos 20 anos em renovação da infraestrutura. Esse montante equivale a investir 12% da receita do setor pelos próximos cinco anos, com retorno estimado entre três e cinco anos. “Isso traria uma recuperação das perdas atuais de receita da ordem de R$ 4,8 bilhões”, diz Miranda.
De acordo com a matéria, algumas iniciativas já estão em curso, no âmbito dos governos, da iniciativa privada e da sociedade civil, para reduzir as perdas na distribuição de água. O Ministério das Cidades iniciou processo para colocar em prática uma metodologia batizada de Com+Água, que reúne nove medidas que se articulam entre si para promover a redução de perdas, em duas concessionárias estaduais, a Embasa (Bahia) e Compesa (Pernambuco). O plano é que, pelos próximos 18 meses, as concessionárias adotem medidas como macromedição, automação de sistemas, modelagem hidráulica das redes e gestão do uso de energia, entre outras.
Outro programa com esse propósito é o movimento Menos Perda, Mais Água, iniciativa da Rede Brasil do Pacto Global das Nações Unidas, que reúne 50 participantes, entre empresas, prefeituras, ONGs e universidades. Lançada em novembro de 2015, a iniciativa está alinhada com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), conjunto de metas de desenvolvimento lançados pelas Nações Unidas durante a Rio+20, em 2012, e que passaram a valer este ano. “Com 35 milhões de brasileiros sem acesso à água potável, é impossível conviver com um índice de 37% de perdas físicas na distribuição.
Outro pilar do movimento é a disseminação de boas práticas. Alguns municípios brasileiros têm obtido resultados positivos na guerra contra as perdas. Campinas e Limeira, no interior paulista, são dois exemplos. Em duas décadas, Campinas conseguiu reduzir pela metade suas perdas no sistema de distribuição, que eram de 40% em 1994 e hoje são de 20%. Limeira, que tinha perdas de 45% em 1995, hoje ostenta uma perda média de apenas 16%, afirmou o jornal.
David Abreu – david.abreu@goassociados.com.br