Quando atravessamos já o terceiro mês da crise imposta pela pandemia da Covid-19, o centro das discussões e das decisões está colocado entre a preservação da Saúde e a preservação da Economia.
Indispensável dizer a importância das medidas voltadas a garantir as melhores condições de Saúde para a população, tanto nos aspectos de prevenção quanto de tratamento. Mas também ninguém pode ignorar os perversos efeitos econômicos gerados pela crise, que no seu limite vem impondo a fome a uma parcela considerável da sociedade.
E quem está com a razão? Isolamento horizontal, vertical, diagonal? Quanto mais me informo a respeito, mais estou convencido de que ninguém está seguro com a opção que defende. Isso porque restam ainda dúvidas elementares sobre o comportamento do vírus.
Porém duas questões já me parecem bastante claras e seguras nessa altura do campeonato. Primeira: quanto mais o enfrentamento da crise for politizado, mais demorada serão as soluções. Segunda: não se deve buscar uma opção entre Saúde ou Economia, mas sim buscar soluções que respeitem de forma adequada as duas áreas.
Missão fácil? Claro que não. Mas nada está sendo fácil nessa situação inédita e excepcional que vivemos.
Um bom exemplo de ação equilibrada, a meu ver, parte do governo do Rio Grande do Sul, que construiu um Plano de Travessia e Recuperação envolvendo diversos setores da sociedade, incluindo prefeitos, criando uma graduação de isolamento baseado em parâmetros técnicos e com aplicação regional.
Não vejo setores empresariais mais atingidos pela crise defenderem uma abertura a qualquer custo. Até porque isso não se sustentaria nem a curto prazo. Percebo que eles, empresários, querem construir protocolos responsáveis para cuidar da Saúde e da Economia. E terão que se comprometer integralmente com tais protocolos.
É digno de nota o setor da construção, considerado Atividade Essencial, e que tem buscado aperfeiçoar a cada dia os protocolos sanitários aplicados em suas obras e escritórios.
Quando li o depoimento de um colega engajado na arrecadação e distribuição de cestas básicas em comunidades carentes, entendi perfeitamente o porquê de a Construção ser classificada como Essencial. Disse ele: “De dez famílias que conversei durante a entrega das cestas, quatro delas me chamaram a atenção. Estavam todos de máscara, atuavam na comunidade como orientadores de medidas preventivas, e buscavam as cestas básicas para repassarem para outras pessoas carentes, pois os maridos estavam empregados e tinham salários. O que essas quatro famílias tinham em comum? Os seus chefes trabalhavam na construção civil”.
A hora é de deixarmos de olhar apenas para interesses pessoais, sejam políticos ou econômicos. Olhar para a floresta e não só para a árvore.
Construirmos travessias e saídas responsáveis para essa crise. Mesmo com todas as dúvidas que nos assolam, podemos sim ir caminhando passo a passo por onde o caminho se mostrar mais seguro.
É isso que nosso Brasil precisa. É isso que a sociedade espera de todos nós.